Jovens, Parem de Morrer!
Nas últimas horas, recebi uma ligação informando sobre um duplo homicídio na Folha 11. Eu acabara de chegar em casa e já havia tirado os sapatos. Imediatamente, coloquei-os novamente, troquei de camisa e entrei em contato com meu cinegrafista para que fôssemos até o local do crime. Embora a rotina já nos tenha ensinado a lidar com cenas de violência, o cheiro de morte e os olhares curiosos nunca são os mesmos. Mesmo que a dinâmica seja quase metodicamente igual, busquei, como sempre, manter a concentração no trabalho, uma profissão que abracei com paixão e dedicação.
Nem sempre temos o prazer de reportar boas notícias, e a distância necessária para observar o local do crime me permite sentir sua atmosfera e deixar que ele próprio nos conte a história. No chão, estavam dois jovens. Ou melhor, mais dois jovens. Dois corpos, duas armas ao lado, sendo que uma delas era tão falsa quanto a comoção dos que observavam. A poucos metros dali, uma padaria fora assaltada, e os dois jovens, minutos antes, haviam estado naquele local. A polícia foi acionada, e, ao perceberem a aproximação das autoridades, os dois fugiram o mais rápido que puderam. Na tentativa de cessar a perseguição, dispararam com a arma verdadeira, já que a falsa só serve para intimidar as vítimas. A polícia, com a eficiência característica de sua formação, revidou.
Infelizmente, mais dois jovens perderam suas vidas para o crime. Gravei uma entrevista com o responsável pela ocorrência, o Cabo Rocha, e em suas palavras, uma frase chamou minha atenção: "Dois jovens que poderiam estar trabalhando, estudando e sendo cidadãos de bem, estão mortos." Se a fala do Cabo reflete o que ele realmente desejava transmitir, o crime teria perdido dois assaltantes, e a cidade teria ganho dois cidadãos exemplares. Eu, por sua vez, teria jantado no horário.
Sai do local, como em tantas outras vezes, apenas com os primeiros nomes das vítimas: Bruno e Vitor. Nomes comuns, que, se não fosse o Facebook, eu só saberia mais tarde, no registro oficial do IML, com idade e outros detalhes. Horas depois do crime, vi os perfis dos dois nas redes sociais. Deus, como eram jovens! Se não tivesse visto, eles teriam sido apenas mais uma estatística para mim, mas não. Agora, seus rostos e suas famílias têm nome. Como todos os que morrem, são alguém. Inclusive, um deles eu vi crescer, de certa forma. Mas, nessa correria frenética da vida, nunca sabemos qual caminho o outro escolheu ou como ele se esforça para pagar suas contas.
Encerro com um apelo de quem já testemunhou sangue demais. Abandonem as vias fáceis e escolham o caminho que traz honra. Ainda que ele exija horas de trabalho árduo e reconhecimento lento, no final, será recompensador. Vale a pena conquistar o que deseja com o seu esforço, com o seu suor e com o seu dinheiro – seja para comprar o tênis que tanto quer, levar sua namorada ao cinema, comprar uma moto legal ou vestir-se com roupas de marca.
"Honra teu pai e tua mãe, para que teus dias sejam prolongados na terra." (Êxodo 20:12)
Repórter:Gebson Assunção
Marabá, 19/10/2016
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